Mudando um pouco o foco do blog, que é essencialmente de poesia, postarei uma entrevista que dei para a revista
Arte?, criada por uns amigos de faculdade. O lançamento está previsto para ser feito na FLIP deste ano, que ocorrerá nos dias 06, 07 e 08 de agosto em Parati.
---------------------------
Botânico e escritor naturalista, como prefere ser chamado, Bruno Pereira Pires, ou Bruno Pira como é conhecido, carioca com 28 anos de praia, é formado em Licenciatura em Biologia pela UFRJ e atualmente cursa Ciências Sociais pela Puc-Rio. Especialista em microbiologia, Bruno é conhecido por ser autodidata em seus estudos que variam da Micologia à Psicanálise, com uma boa passagem pela Filosofia e pela Arte até a Moda.
Músico, tem como
hobby a fotografia, o cinema e a
enteogenia, possuindo algumas de suas canções gravadas por grandes nomes da mpb, como Lenine. Também assina alguns curtas-metragens como diretor e roteirista.
Lançando seu segundo livro na FLIP,
Como criar meninas em um mundo hostil, sob distribuição própria, o escritor bateu um papo descontraído com a Arte? onde dá uma passada desde seu processo de inspiração até o futuro trabalho, ainda em finalização.
Arte? - Quais são suas inspirações?
Bruno Pires: Escrevo sobre mim, sobre as coisas que já vivi. E olha que já vivi bastante.
Minha inspiração são os momentos que já tive ou que quase tive, mas que deixaram um gostinho daquilo que poderia ter tido. Já vivi tanto que não sei se preciso inventar estórias para escrever sobre elas. Vou ao âmago da emoção de um momento, o sinto novamente e escrevo sem a obrigação de fazer isso. Geralmente escrevo no próprio momento, o que faz com que o texto transmita sentimentos mais reais e honestos daquela vivência.
Sinto não saber escrever ficção tão bem como o que faço com a realidade e como a maioria dos outros autores fazem. Sempre que leio uma obra literária e a acho extraordinária me pergunto de onde veio aquela inspiração, assim como em alguma poesia ou letra de música de mesmo grau. Sinto também por alguns autores terem nascido tão criativos e pouco vividos. Não acho legal ter apenas a teoria sem nenhuma ou com pouca prática. Viver é imprescindível, é o mínimo para se ter argumentos para entender e escrever sobre a vida. Nesse caso a teoria é como apenas ter o domínio sobre a gramática e saber reproduzi-la corretamente de uma forma atrativa, enquanto que viver é poesia.
Arte? - Como é sua rotina com as palavras?
BP: Chego em casa e aos poucos vou betaneando minha solidão com música. As palavras são minhas amigas e estão sempre dispostas a dar uma ajuda ao entendimento de certas dúvidas. Aos poucos respondo as mais diversas perguntas acumuladas. Às vezes nem preciso chorar, escrevo.
Escrevo para desabafar, pra falar comigo mesmo silenciosamente (mentalmente). Pra sorrir e pra colocar pra fora tudo o que congestiona a mente deste Ser aqui que está em pleno isolamento.
Escrevo porque não tenho com quem falar tudo o que penso. Às vezes saem coisas boas, outras nem tanto. Escrever é um eterno aprendizado. É saber exprimir cada sentimento em verbos e substantivos, com raros adjetivos. Isso é escrever bem. Escrever bem é saber unir as palavras como a harmonia de um balé, é criar vínculos consigo e com seu nicho, como disse Fernando Pessoa: “Minha língua minha pátria”.
É dar voz ao “mudo” e a seu mundo. É ser compreendido por outros tantos que vêem em cada uma de suas palavras um significado. É ser chato e repetitivo quando não usa vírgulas ou as usa demasiadamente. É escrever “demasiadamente” sendo legal.
Escrever bem é não cansar de ler a si mesmo.
Arte? - Você falou de letras de músicas e me lembrei que também é músico né. Como músico você também compõe?
BP: Comecei escrevendo músicas aos treze anos. Sempre no mesmo estilo, escrevia sobre meus problemas pessoais e as musicava com um violão velho que tenho até hoje. De lá pra cá muita coisa mudou, ainda assim sinto uma nostalgia ao ler tudo atualmente, não pela complexidade das palavras, até porque um adolescente de 13 anos não tem muita intimidade com elas e experiência de vida suficiente pra “contar” suas histórias, mas por uma ingenuidade com o texto e certo pudor com a escolha de cada palavra que se sucedia, algo que os escritores mais cascudos perdem com o tempo.
Continuo escrevendo músicas, mas com outro objetivo, com mais otimismo. Se antes eu apenas me espelhava em meus ídolos suicidas e pensava em fazer o mesmo depois que ficasse famoso, hoje quero contar o lado bom da minha história e criar outras tantas histórias positivas pra guiar o máximo de vidas possível para o caminho da Luz.
Infelizmente ainda cruzo com alguns mal intencionados...
Arte? - Como assim?
BP: Outro dia ouvindo rádio ouvi uma música que me soou muito familiar, bacana, nem me liguei muito. Um tempo depois, corrigindo um de meus blogs, me deparei com a letra cantada naquela música, com uma ou outra palavra diferente, puro plágio na cara de pau.
Normalmente eu escrevia diretamente nesse blog, fossem músicas, poemas ou contos. Nunca imaginei que alguém poderia se apropriar assim na cara dura de algo que não foi feito por ele e assinar como se fosse de sua autoria, tudo buscando o lucro e o proveito próprio.
A única prova que tenho é a data que está no blog, que em contraste com a data de registro na BN, é muito mais antiga.
Arte? - Nossa, e quem fez isso?
BP: Não posso falar. Meu advogado está cuidando bem desse caso que por enquanto segue a segredo de justiça. Infelizmente posso perder e se der “nome aos bois” nesse momento isso pode me gerar um processo por calúnia e difamação.
O que me consola é que tanto eu sei quanto ele também sabe que a música é minha. É como um atleta que usa doping ou um jogador virtual que usa cheater: vence o jogo mas sabe que trapaceou.
Arte? - O que você costuma ler?
BP: Leio o que der na telha, depende do momento. Às vezes fico interessado em um determinado assunto e busco o máximo de informações sobre ele em livros, sites e fóruns. Às vezes leio para matar o tempo no meu deslocamento de um lugar para o outro, mas aí geralmente é uma literatura mais fácil. Quando quero ler com atenção reservo um tempo e um lugar ideal para isso, onde leio sozinho e com o máximo de silêncio possível. Adoro ler em bibliotecas, me inspiro de verdade nelas e consigo aderir perfeitamente o pensamento do autor no momento em que escreveu tal obra. É o caso de autores como Dostoievski, por exemplo, mas gigantes como Machado de Assis eu também faço desta forma. Adoro literatura. Muito antes que eu imaginasse escolher esta forma e este lugar para viver este momento, grandes mestres já passaram por aqui e conseguiram ter o domínio sobre as palavras escritas inventadas por nós, criando obras-primas que precisam ser degustadas não apenas por quem as aprecia, mas por todos os seres que teem raciocínio.
Arte? - O quê você está lendo no momento?
BP: Estou re-lendo “O Universo em uma casca de noz”, do Stephen Hawking, A interpretação mais fiel do “Tao Te Ching” de Lao Tse, um livro Hare Krishna que não lembro o nome do autor, mas chama-se “Meditação e Superconsciência”, “Apocalipse” de Frei Battistini e “A Doutrina de Buda”.
Arte? - Nossa...
BP: Deu pra perceber o momento que estou vivendo né? Tenho buscado muito o autoconhecimento e o entendimento parcial de quem somos nós coletivamente e individualmente neste momento...
Arte? - Por que você fala tanto em momento?
BP: Porque não estamos aqui em vão. Escolhemos estar aqui assim dessa forma. Não a forma física que temos, essa está em constante mudança. A forma carnal.
Momento é porque o que chamamos de tempo só existe em nossa realidade. Nem sabemos se essa realidade é real mesmo ou é uma invenção nossa. De onde viemos não há momentos e não há tempo. Não há cronologia. Tudo é uma coisa só, inclusive as essências. Não há nem como imaginar com nosso tipo de raciocínio. Aliás, nossa mente também é algo que escolhemos ter. Temos uma mente primitiva em um corpo ainda mais primitivo. Nada disso somos nós de verdade, é nosso momento. Quem acredita que é isso está enganado.
Quem acredita que é realmente esta mente e é este corpo acredita que existe tempo e não o momento. Não somos nossa mente nem nosso corpo. Somos forçados a acreditar nisso por um pequeno gigante que também habita nosso Ser e que se alimenta dos pensamentos de superioridade da nossa mente e das vontades que podem dar prazer ao corpo físico, ele é o Ego.
O Ego está em constante batalha com nosso verdadeiro Eu, que é nossa Essência. Uns a chamam de Alma, outros de Self. É isso o que somos. Nossa essência, ou seja, nós mesmos, é que escolheu vir existir neste momento e nesta realidade para passar por algumas provações que só poderia vivenciar estando em “carne-mente-ego”. Sentindo dor. Tais provações é que poderão nos fazer evoluir ou não. A dor é necessária e fundamental para nossa evolução. Quem foge da dor não evolui.
Apenas o medo de sentir dor já faz com que a maioria de nós desista de tentar, imediatamente nos forçamos a acreditar que somos este corpo e que somos esta mente, o que acarreta no esquecimento de nossa essência e de nossa missão durante toda nossa existência aqui.
Não sabíamos como seria viver nesta realidade assim como também não sabemos como é viver no lugar do qual nossas essências vieram. Isso nunca saberemos enquanto estivermos presos neste corpo, nesta mente e neste ego. Infelizmente nossa prepotência, ou como diria Nietzsche, nossa “vontade de potência” nos faz querer entender o incompreensível para nossa mente, nos faz nomear o inominável e pensar o impensável de ser pensado com nossas limitações.
É aí que a humanidade errou o caminho.
Por isso que vieram os Messias, para nos guiarem novamente ao caminho da Luz. É este o tema do meu próximo livro e é essa a intenção que tive ao escrevê-lo. Fé e ciência podem sim se misturar e um ajudar o outro a entender um pouco sobre isso. Tudo está ligado, cada ciência, cada mitologia, cada coisa, orgânica ou não. Partindo da premissa de que Tudo o que existe individualmente é apenas parte de um Todo e que só estamos separados neste momento, ou seja, o Tudo é apenas Um, todas as coisas existentes se encaixam. Cada pesquisa, cada estudo, cada objeto, cada coisa e cada ser é apenas o complemento do outro. Tudo está ligado. É isso que defendo neste livro.
Estamos chegando ao nosso limite de progresso como homo sapiens e precisamos nos questionar se a ciência que tanto nos ajudou e deu conforto pode responder as mais simples perguntas que há tanto assolam a humanidade.
Arte? - E já tem previsão pra lançamento?
BP: Tenho outros dois livros não lançados que estou finalizando com minha prima, que está fazendo as revisões, e à procura de uma editora para publicá-los em breve. Mas não os limitarei apenas à isso. Publicar é um sonho. Quero um IIRU pra cada livro meu assim como traduções fieis para outros idiomas sem que isso soe pretensioso. O conhecimento precisa ser divulgado e essa é uma das formas que eu gostaria de presentear a humanidade: dando um pouco do conhecimento que obtive até hoje com meus quase 30 anos de existência embalados em milhares de vivências extraordinárias.
Cada ser é extraordinário e tem algo a acrescentar aos outros seres. Nunca fui bom com as palavras orais e essa introspecção foi importante pra que eu me tornasse bom com as palavras escritas. São através delas, da música e dos filmes que quero trazer pra cá alguns argumentos guardados no meu mundo sensível e doá-los à quem quer que seja, podendo ou não dar-me algo em troca.
Arte? - Em nome de toda equipe do Arte? agradeço pela sua entrevista
BP: Obrigado pela oportunidade. Adorei a iniciativa da revista e de entrevistarem autores desconhecidos. É sempre importante abrirmos novos leques de opções para os interessados em qualquer coisa, principalmente por arte. A arte é o que não faz o mundo pirar de vez.
Aos leitores, continuem lendo o máximo que puderem e produzindo coisas que vem da alma e do coração com muita honestidade, porque o que mais existe hoje no mundo é falso artista que apenas tem uma facilidade pela reprodutibilidade do que já foi feito, não nos trazendo nada de novo e entupindo nosso mundo com falsa arte. A falsa arte é como a falsa Luz, imita a Luz verdadeira para conseguir seguidores que só percebem que pegaram um caminho falso depois de muito tempo.
Arte precisa ser sentida por nossa Alma apenas. Arte não é estética, não é o que soa legal. Arte é o que transcende e conecta, é inesperada. A arte é uma forma de amor dado pelo sensível de alguém ao sensível de outrem.